terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A História do Voilette




Voilette em francês significa véu, e é exatamente isso que ele é. Mas no formato que conhecemos hoje, é um véu mais curto, que cobre o rosto. O dicionário Larrouse lhe dá o seguinte significado: “Pedaço de véu de tule (ou renda) colocado na borda de um chapéu e que cobre o rosto parcial ou totalmente.” Mas sabemos que o voilette não é usado só com o chapéu. É usado sozinho também. Então podemos dizer que ele é o véu que cobre o rosto. 


Ele foi muito usado entre os anos 10 e 50 do século XX, e se tornou um ícone do estilo retrô e pin up. Mas para entendermos melhor de onde isso vem, vamos dar uma olhada na história do véu? Inicialmente ele era usado para cobrir a cabeça.




O primeiro registro do uso do uso do véu por mulheres é de um texto legislativo assírio do século 13 a.C., que restringia seu uso a mulheres da aristocracia, e o proibia para prostitutas e mulheres comuns. Podemos deduzir que ele era um sinal de status.


Ele também sempre esteve ligado a costumes de casamento e à religião. As noivas até hoje usam o véu em cerimônias de casamento, e ele costumava simbolizar a pureza e a virgindade da noiva. Na Grécia Antiga, as noivas o usavam para se proteger do mau olhado e do assédio de outros homens.

Na Grécia Antiga, as mulheres usavam o véu
para se proteger do assédio dos homens.


Há também relatos da cultura da Mesopotâmia a respeito do uso do véu em culto a Ishtar, deusa da fertilidade e da primavera, também associada à dança dos sete véus. No judaísmo e no islamismo, ele também é usado desde a Antiguidade, em cerimônias religiosas e eventos sociais. Aliás, o Islã não só prega o uso do véu nessas ocasiões, como a mulher deve andar com a cabeça coberta no dia a dia também. Ela deve cobrir os cabelos. 

Deusa Ishtar, associada à dança dos sete véus.
 
O Islã prega que as mulheres muçulmanas devem
cobrir os cabelos com o véu no dia a dia.
 


No cristianismo, o véu aparece nas imagens de santas, como sinal de recato, assim como no judaísmo e no cristianismo. Ainda no século XX, existia a prática, até os anos 60, de usar o véu ou mantilha para cobrir a cabeça das mulheres na igreja. Esses véus eram feitos de tule e de renda, e lembram muito os véus vitorianos de luto.


No cristianismo, o véu aparece nas imagens
de santas, como sinal de recato.

Na Idade Média, por influência das cruzadas, e consequentemente da cultura islâmica, as mulheres passam também a usar diferentes tipos de véus. E para isso, usavam chapéus elaborados como uma espécie de suporte para o véu. Havia inúmeras formas de chapéus e enfeites para a cabeça e grande variedade de penteados elaborados. Por volta de 1400, as mulheres chegavam até mesmo a raspar os pelos da sobrancelha, para dar destaque aos chapéus. 


O acessório chamado crespine era uma espécie de rede de cabelo que tinha estrutura de arame com forma cilíndrica ou esférica e pontiaguda, que lembrava chifres, onde se prendia o véu. Já o acessório conhecido como “borboleta” era um pequeno chapéu que escondia os cabelos e servia de apoio para um véu diáfano com forma de borboleta. Havia também um acessório com formato de coração, em que o véu era usado como enfeite. 

Crespines usados na Idade Média.
 
Véus modelo diáfano.
Acessórios em formato de coração,
usados com o véu na Idade Média.

Já o Hénnin, também conhecido como campanário, era o chapéu que hoje chamamos de chapéu de fada ou chapéu de bruxa. Era um cone de seda ou veludo com um véu preso na parte mais alta. Existia também o modelo de dois cones, e muitas vezes os véus eram bem compridos. Com o passar do tempo, o chapéu foi ficando cada vez mais alto e pontudo. O Hénnin acabou se tornando um símbolo de status, porque exigia uma preparação elaborada, e ainda uma maneira lenta de andar por parte de quem o usava; e isso só poderia ser mantido por pessoas ricas, que tinham tempo ocioso. 

Chapéus Hénnin de copa alta: um acessório para mulheres ricas.

Chapéus Hénnin de copa baixa.
 
Com o modelo Hénnin, já podemos ver o véu cobrindo o rosto, já que em alguns momentos e em alguns modelos, ele não cobria apenas a cabeça, mas o rosto também (geralmente no início de seu uso, quando o chapéu era mais baixo e menos pontudo). Como podemos perceber, na Idade Média já surge a ideia de usar o chapéu e o véu juntos (vamos lembrar que o uso do voilette sempre esteve muito associado à chapelaria e ao uso do chapéu). 


Tradicionalmente, os véus que cobriam a cabeça eram de tecidos, muitas vezes translúcidos, e alguns de linho, mas ainda não eram feitos de nenhum material com estrutura de tela, como os do século XX.


Nos moldes mais próximos do que conhecemos, há registros de uso do voilette no século XVII. Mas ele realmente se tornou um adorno no século XIX. Ele foi muito usado na Era Vitoriana, juntamente com chapéus. 


Nesta época, a moda sofreu forte influência da moda e dos ritos do luto, incluindo o uso da cor preta nas roupas e acessórios e também um tipo de véu de luto que era usado.  Durante o primeiro ano de luto fechado, era usado um véu grande, e comprido, que cobria todo o rosto da mulher. Nos seis primeiros meses do segundo ano, ela podia substituir o véu longo e pesado por um véu curto. Esses véus eram feitos de tule e renda, e influenciam a moda do vitoriano gótico dos dias de hoje.

Véus vitorianos: os ritos de luto exerceram forte influência na moda.
 
Véu vitoriano de luto fechado.
 
Nos seis primeiros meses do segundo ano,
a mulher enlutada podia substituir o véu
longo e pesado por um véu curto.


Mas além dos voilettes de luto, também já eram usados os primeiros voilettes com o material que conhecemos hoje. Esse material costuma ser chamado de várias formas diferentes: tela francesa, tela russa, birdcage veil (em inglês, que significa algo como “Véu gaiola de pássaro”), e até mesmo pelo nome de voilette mesmo. Mas voilette é o acessório, o véu que cobre o rosto, e por isso nem todo voilette precisa ser feito desse material. Também existem voilettes de tule e de renda, por exemplo. Mas voltando ao voilette vitoriano, ele era sempre usado com chapéus. Tanto o voilette de estilo próximo ao moderno, quanto o de luto.

Voilette da Era Vitoriana: usado com chapéu.
Surgem os modelos feitos de tela.


No século XX, o voilette aparece a partir dos anos 10, mas seu auge é entre os anos 30 e 40. Nos anos 20, o acessório foi disseminado por grandes nomes da moda como Coco Chanel e Dior. Então ele já aparece como um véu pequeno, que cobre apenas o rosto, um pedaço de um material de tela.


Mas o voilette realmente fez sucesso mesmo com Marlene Dietrich, em "O Expresso de Xangai", em 1932. Ele também aparecia em outros filmes, como com a atriz Joan Fontaine em “As mulheres” (1939), e também ao longo dos anos 40 e 50.  Foi muito usado nos anos 40, especialmente com chapéus na época da Segunda Guerra. E nos anos 50, mesmo depois da guerra, ele continuou a ser bastante usado, e algumas vezes cobrindo ao redor de toda a cabeça, mesmo sendo em tamanho curto. 

O voilette fez muito sucesso com Marlene Dietrich,
no filme "O Expresso de Xangai".
 
A atriz Joan Fontaine usando o voilette.
Modelos de voilettes dos anos 50:
aparecendo cobrindo ao redor da cabeça.
Muito se diz que o voilette era usado para proteger o rosto do sol e da poeira. Pode ser que seja. Na verdade, é um pouco difícil dizer. Sabemos que ele é um tipo de véu, e que deriva de uma tradição cultural mais antiga do uso do véu. Ao longo da História, o véu foi usado como símbolo de status, como forma de proteção, de devoção religiosa, como símbolo de pureza, e até mesmo de luto. O que podemos dizer com certeza é que ele sempre foi usado como uma forma de expressão, e talvez os motivos recentes do uso do voilette tenham um pouco a ver com todos esses motivos do passado. Mas o fato é que ele é hoje uma questão de estilo pessoal, e ainda uma forma de expressão. Além, é claro de um símbolo do retrô, do vintage e do estilo pin up; apesar de no Brasil ele ainda ser fortemente associado a noivas e casamento.

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