Muito conhecido nos dias atuais como um acessório de chapelaria da realeza britânica, o fascinator ganhou este nome nos anos 60 e 70. Mas a origem é muito mais antiga: a corte da realeza francesa do século XVIII. Poderia-se dizer que o acessório remontaria à pré História, com o uso de enfeites na cabeça. Mas é melhor tratar a história desse acessório a partir de um momento em que ele é entendido conscientemente como um item de moda.
Nos anos de 1770, Maria Antonieta decidiu enfeitar o penteado com penas de avestruz e pavão. E assim, a rainha lançou a moda do fascinator. Mas ele não se resume a um mero uso de penas no cabelo. O século XVIII também foi o século de um acessório chamado Fontange, surgido na década de 70 do século anterior. Criado por Mademoiselle de Fontange (Marie Angélique de Escorailles, a marqusa de Fontange), o acessório consistia em uma estrutura de tecido engomado e armado, em forma de leque, preso a uma touca de linho, cambraia ou tecido semelhante, que era encaixada na cabeça e amarrada. Este enfeite em forma de leque geralmente era feito de renda ou de tecido transparente, e era chamado de pinner. Este pinner era mantido levantado através de arames que faziam parte da estrutura do acessório, fixado na parte de trás, com uma inclinação para frente. E uma parte do tecido, costumava ficar ligeiramente caída atrás da cabeça, como uma espécie de pequena cauda ou véu, cobrindo o cabelo. Da França, a moda do Fontange se espalhou por toda a Europa entre 1690 e 1710.
A marquesa de Fontange foi a criadora
do acessório que ficou conhecido como Fontange
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Fontange do século XVII - 1886 |
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Fontange do século XVII 1890-1895 |
No século seguinte, o fontange
fica cada vez mais refinado e trabalhado, e se popularizou em diferentes
modelos e estilos. Algumas vezes, eram acrescentados laços de fita, além de
muitas pregas. Logicamente, era um símbolo de status social, já que era usado
por mulheres nobres e ricas. Geralmente, as pessoas consideram como fascinators
ou notam apenas modelos com penas. Isso não é uma regra. O fascinator é um
acessório que é por essência algo vistoso, quer tenha penas ou não. Por isso é
importante ressaltar a importância do fontange
como um dos primeiros modelos de fascinators, mais até do que apenas o uso de
penas no cabelo, sem que exista um arranjo elaborado delas.
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Fontange do século XVIII |
Esses arranjos
surgiram com Maria Antonieta, e se popularizam conforme a altura dos penteados
ia ficando cada vez mais alta. Normalmente, as penas de avestruz eram usadas
nos penteados juntamente com fitas. Com o tempo, esses arranjos de penas também
foram ficando mais sofisticados, com laços, fitas, contas e broches, juntamente
com as penas. Normalmente, eram usados com grandes perucas.
Maria Antonieta criou o fascinator de penas
Os arranjos de penas de Maria Antonieta,
no século XVII, foram ficando cada vez mais sofisticados
Surgiram, ainda no século XVIII, modelos de fascinators que
eram uma espécie de mistura do fontange
com o arranjo de penas. Eram acessórios com rendas e laços, que juntamente com
as penas, eram vistos como sinal de indiscrição, e considerados exagerados.
Alguns chegavam até mesmo a imitar pratos de frutas, além de outras
extravagâncias. Também havia modelos feitos de tela (estilo véu) e fitas com
tecidos e laços torcidos.
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O fontange se espalhou por toda a Europa, inclusive a Espanha. |
Na Espanha, as mantillas, véus que as mulheres usavam para ir á igreja, passam a ser usados com um grande enfeite no topo. Eram fascinators também de renda ou tecido, presos por um pente, e decorados com rosetas e flores de fitas e renda. A versão da mantilla com pinner se tornou um traje típico espanhol, usado até os dias de hoje.
Surgiram versões da mantilla com enfeites ao estilo do pinner
A mantilla com pinner se tornou
um traje típico espanhol,
usado até os dias de hoje.
Sofia de Espanha usando a mantilla com pinner:
traje típico usado até os dias de hoje
No século XIX, o acessório continua a ser usado, muitas vezes com flores, rendas, babados, penas e laços. Eram usados não apenas por mulheres jovens, mas também por mulheres maduras ou mesmo consideradas idosas.
O Fascinator ainda era usado no século XIX
Nos séculos XVIII e XIX, os fascinators eram presos a toucas, bonnets ou gorros, ou mesmo a um véu, e com relação a isso, eram bem diferentes dos modelos modernos. Nos dias de hoje, eles costumam ser presos por pentes, arames, presilhas ou clipes, com ênfase somente no volume vertical. O enfoque fica totalmente voltado para o enfeite. E aliás, muitas vezes, o fascinator de hoje chega até mesmo a ser apenas “o enfeite do chapéu, mas sem o chapéu”.
Do século XIX para cá, ele entrou um pouco em desuso com a chegada da Primeira Guerra Mundial. Aliás, mesmo no período da Belle Époque, a moda era de chapéus maiores e muito enfeitados. Mas chapéus e não fascinators. Nos anos 50, período do pós guerra e do New Look, Cristóbal redescobre o fascinator, ao tentar equilibrar o tamanho do chapéu ao volume do casaco e do vestido. Mas o fascinator moderno, batizado com esse nome veio do chapeleiro (Milliner) John P. John, também conhecido apenas como “Mr. John”. Nos anos 60, John fez, em Nova York, chapéus feitos de véus, que continuavam no topo da colmeia, e os chamou, pela primeira vez, de fascinators.
Mr John é considerado o pai do fascinator moderno
Nos anos 50, os acessórios parecidos ou similares eram no máximo chamados de half hats ou clip hats. Mas o nome dado por Mr. John parecia muito mais atraente e foi uma jogada de marketing realmente inteligente. Ele é reconhecido por transformar o acessório em um fenômeno moderno e conceitual, que continuou uma sensação durante os anos 70.
Carmem Dell'orefice usando
fascinator criado por Mr John.
Nos anos 90, quem se destacou com a confecção de fascinators foi Philip Treacy, defendido pela editora de revistas Isabella Blow. Curiosamente, ele não gostava do termo fascinator, e preferia chamar seus acessórios apenas de chapéus.
O chapeleiro Philip Treacy
não gosta do termo fascinator
Nos anos de 2000, em especial de 2010, os fascinators se popularizaram ainda mais com os casamentos da família real britânica. Apesar das controvérsias de quem defende que não é formal o suficiente como um chapéu, o acessório foi abraçado e se tornou querido das gerações mais jovens, que não se identificam com chapéus tradicionais.
Os fascinators se popularizaram com os
casamentos da família real britânica
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