Os anos de 1930 foram muito interessantes para a chapelaria. A crise econômica que se seguiu à quebra da bolsa de 1929 contribuiu para estimular a criatividade na criação e no uso de chapéus. As pessoas muitas vezes tinham um visual mais simples, mas investiam em um chapéu interessante que se destacasse do look. Houve espaço para muitos projetos experimentais de chapéus, e Elsa Schiaparelli se destacou nesta época pelos acessórios que produzia. Os chapéus eram alegres, peculiares e femininos. Mesmo os que eram versões de chapéus masculinos.
O cloche continuou a ser usado, e o tamanho geral dos chapéus
diminuiu. Os chapéus pequenos faziam mais sucesso, e eram ricos em dobras e
enfeites. Surgem versões femininas de diferentes chapéus originalmente
masculinos.
Conforme a crise econômica se aprofundou com o passar dos anos,
os materiais foram ficando mais escassos, e havia menos tecidos para
confeccionar. Para compensar, muitos chapeleiros adicionam o bom e velho
voilette, cobrindo os olhos, algumas vezes o nariz e até mesmo o queixo; e ele
volta a estar em alta. Com o passar da década, também os formatos estruturados
foram ganhando mais espaço em relação aos modelos mais maleáveis do início da
década.
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Chapéus de 1934, em diferentes modelos, com voilette |
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Um voilette de 1937 |
Outra coisa interessante a se observar através da década é o quanto os enfeites ficaram mais ricos e diversificados, assim como as abas e dobras foram ficando mais ousadas e sofisticadas. A diversidade de cores também aumenta: azul, rosa, verde, pêssego, além das tradicionais branco, preto, vermelho e azul marinho. Geralmente as cores eram vivas e contrastantes.
A maioria dos chapéus ficava presa à cabeça através de
elásticos ou tiras de tecido por baixo do cabelo.
Cloche
O cloche passa a ter uma aba mais comprida nas laterais, e
mais curta na testa. Muitas vezes, a aba era sobrada na frente. De um modo
geral, a testa fica mais à mostra. O tamanho também muda um pouco, já que a
copa passa a ser produzida um pouco mais folgada, não tão justa na cabeça como
na década anterior. Os de estilo Greta Garbo (conhecido como modelo sloucher) era um modelo muito comum.
Tinha poucos enfeites, e geralmente levava uma fita larga em volta do chapéu.
Alguns começaram a ter abas semelhantes a viseiras.
Também surgiram alguns modelos de copa mais quadrada, ao
longo da década.
Juliet Cap ou Calot ou Coquinho
Esse chapéu que fez sucesso na década anterior continuou a
ser usado nos anos 30. Uma versão famosa dele é o “Mad Cap” de Elsa Schiaparelli. Era feito de tecido (geralmente
linho, seda, lã ou chenille), esticado e modelado, de acordo com a preferência
da cliente. Essa versão experimental surgiu em 1930, e foi sucesso
internacional. Era possível fazer um modelo desse tipo em casa, o que explica a
popularidade na época. Mas também eram vendidos por preços baixos, mais baratos
do que os comuns chapéus de feltro.
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Mad Cap dos anos 30 |
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Alguns caps dos anos 30, em modelos para o inverno |
Boinas
As mesmas boinas da década anterior, como a Beret e as em
estilo Tam Hat, continuaram em alta. Algumas apareceram em tamanho maior, e
também com desenho mais anguloso.
Turbantes
Os turbantes dos anos 20 também continuaram a ser usados.
Principalmente os chapéus modelados no formato de turbante. Os modelos dos anos
30 costumavam ser muito mais vistosos e extravagantes dos que os da década
anterior. Eram feitos em dourado, e em tecidos brilhantes e metálicos, como o
lamê, mesmo durante o dia. Costumavam ser usados por mulheres ricas, juntamente
com casacos de pele e luvas cravejadas. Também eram feitos de brocado, veludo,
crepe e outros tecidos, e muito populares em eventos noturnos.
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Greta Garbo e Loretta Young usando turbantes |
Pillbox
Surge o Pillbox, redondo, reto, sem abas. Um chapéu que não
gastava muito material na confecção. Popularizado por Greta Garbo, com o filme
“Como me queres”, em 1932, o modelo fez sucesso por sua simplicidade e
elegância. Os modelos eram simples, em cores sólidas e sem muitos adornos.
Muitas vezes decorados com joias e broches, também costumavam ter pequenos
voilettes, na maior parte das vezes.
Cartwheel
Este modelo começa a surgir em meados da década, influenciado
pelo cinema. O primeiro foi usado por Mae West, em 1933. As abas grandes
compensam os traços retos do vestido, favorecendo a silhueta das atrizes. Eram
bem vindos em passeios ou férias de verão, e podiam ser feitos de palha, feltro
ou outros tecidos.
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Carole Lombard usando o Cartwheel |
Por ser um chapéu de aba muito larga, e difícil de usar nas cidades,
o Cartwheel também ganhou versões com abas um pouco menores (mas ainda largas),
e essa versão ganhou o nome de “Halo”.
Na versão Halo, o Cartwheel era feito
em materiais mais refinados, com uma decoração simples: geralmente um conjunto
de flores.
Chapéus Masculinos
Na década de 30, a moda feminina sofreu influência da moda
masculina, e o mesmo aconteceu com os chapéus. Modelos como Fedora, Homburg,
Bowler, Panamá, Trilby e Boater ganharam versões femininas, assim como chapéus
de uso militar. Geralmente, as versões femininas desses chapéus eram em tamanho
menor do que as dos homens, e os chapéus eram presos, e não enfiados na cabeça.
Muitos eram cheios de dobras, e mais complexos em relação aos dos homens.
O Panamá era usado pelas mulheres como chapéu de verão. A aba
da versão feminina era ligeiramente mais ondulada do que a do chapéu masculino.
Estes chapéus inspirados em modelos masculinos eram usados
com qualquer tipo de vestimenta durante o dia, fossem ternos de tweed ou
vestidos de estampa floral.
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Estes chapéus eram usados com qualquer tipo de vesrimenta |
Alguns modelos de Homburg eram tão pontudos, que lembravam chapéus de Robin Hood. E chegam mesmo a surgir modelos angulosos de chapéus inspirados no Henin, conhecido como "chapéu de bruxa" Essas versões angulosas encontravam inspiração na arquitetura Art Déco e em filmes de Hollywood.
No caso do Boater, o Sailor Hat, sua versão feminina já
existente, continuou em alta. Além do Sailor Hat, também surgem modelos de Sailor Cap, inspirado no gorro usado
pelos marinheiros. Eram usados com roupas casuais de verão, ou na praia com
temas náuticos. Aliás, o estilo Navy
também estava em alta nessa época (desde que surgiu na década anterior), e esse
chapéu muitas vezes fazia parte dele.
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O Sailor Cap fazia parte do estilo Navy |
Formatos inovadores de Elsa Schiaparelli
A designer de moda italiana também inovou na chapelaria
durante a década de 30. Um exemplo interessante foi o do chapéu em formato de
disco. Eles são símbolos de elegância e usados ainda hoje na chapelaria. Outra
influência da designer usada ainda nos dias de hoje é a aba pregueada. Muitos
chapeleiros ainda usam pregas de tecido tanto em abas quanto em enfeites dos
mais variados tipos de chapéus. A versão pontuda do Homburg, que fez muito
sucesso na época, também foi inovação dela. Os chapéus ficaram cada vez mais
pontudos, ao ponto de não mais se parecerem com um Homburg, em algumas vezes. Alguns acabam se parecendo com o modelo Henin.
Muitos desses modelos eram da designer italiana.
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Formato de disco, abas pregueadas e abas de tela ou transparência: inovações de Schiaparelli que ainda são sinônimo de elegância, e continuam inspirando chapeleiros nos dias atuais |
Muito ligada à arte, Schiaparelli lançava alguns modelos que
podem ser considerados estranhos e difíceis de usar no dia a dia, tanto naquela
época quanto nos dias de hoje. Alguns exemplos são os chapéus de inspiração
surrealista que são enfeitados com mãos. Ou o chapéu com formato de sapato.
De qualquer forma, é inegável a influência da designer na
chapelaria do século XX e também na contemporânea.
Outros acessórios
Os lenços também eram muito usados pelas mulheres,
especialmente em dias de “cabelo ruim”. Uma das amarrações mais populares era o
estilo “camponesa”, em que o lenço é dobrado ao meio, cobre a cabeça, e é
amarrado no queixo.
Outro acessório que ficou em evidência foi o snood, uma rede de origem vitoriana,
usada para segurar o cabelo. Era de crochê, e por isso muitas mulheres
confeccionavam o acessório em casa.
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Snoods dos anos 30 |
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Pillbox com Snood |
Na virada da década, podemos já podemos ver o discreto uso de flores no cabelo.
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